sábado, 6 de julho de 2013

Por uma cultura de paz - Pr Carlos Queiroz

O novo ser humano começa na descoberta de um mundo interior

Findo o caso Nardoni – com a condenação do casal que atirou pela janela a menina Isabella, crime que chocou o país há dois anos –, um novo episódio brutal mobiliza a fúria popular. Agora, a bola da vez é a promotora de Justiça aposentada que massacrou a criança de dois anos que pretendia adotar. Ainda não se sabe como o caso irá terminar, mas seu desenrolar já fez a opinião pública praticamente esquecer o horror das crianças perfuradas com agulhas ou os abusos sexuais cometidos por sacerdotes. É, de denúncia em denúncia, de crime em crime, a sociedade brasileira vai se acostumando à violência, inclusive aquela praticada contra menores. 
Quando banalizamos a vida, permitimos que as mais variadas formas de violência façam parte de nossa rotina. Ela vira uma cultura, uma prática social aceita e natural. Pessoas, grupos sociais e instituições são conduzidos a se agredirem mutuamente, a tomarem à força os bens e o patrimônio de outros, a buscarem pelo abuso do poder a dominação, a humilhação e exploração do próximo. No Brasil, ela se manifesta em todos os espaços – na família, nas ruas, nas instituições religiosas, nos partidos políticos. A praga da violência brasileira contaminou a linguagem, o humor, a letra das músicas, as expressões étnicas, os esportes. O que dizer, por exemplo, da onda de baderna e brutalidade que tomou conta das torcidas organizadas de futebol? A violência já não é mais tema exclusivo de segurança pública; é questão de saúde, demanda de interesse da ética e da espiritualidade humana.
Diante disso, o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, celebrado em 18 de maio, passou despercebido para a maioria das pessoas. Mas algumas iniciativas mostram que a cultura de paz, se incentivada por todos, pode florescer neste país. Há que se celebrar a ousadia dos meios de comunicação no apoio para identificação dos lastimáveis casos de violência, principalmente contra menores, e a atitude de agentes públicos que, em suas atividades, cumprem seus papéis com responsabilidade, praticando a justiça. Ou as iniciativas da sociedade civil organizada na luta pela implementação plena do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), evidenciada na elaboração de políticas públicas e na efetivação de programas de proteção e projetos sócio-educativos para nossas crianças e adolescentes. Tudo indica que há sinais de esperança. 
Os seguidores de Jesus Cristo foram sempre habilidosos construtores da paz.  O exemplo do Filho de Deus foi inspiração para homens e mulheres como Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Tereza de Calcutá, João da Cruz e muitos outros. A criança, na cultura do Evangelho anunciado por Jesus, foi sempre prioridade, referencial de singeleza e pureza. No Brasil, país considerado cristão – a maior nação católica do mundo, a segunda maior em número de evangélicos –, não é possível aceitar mais a vergonha de observar passivamente as denúncias de maus tratos e violência das mais variadas formas contra nossas crianças e adolescente indefesos.
Se, de um lado, repudiamos essas sementes desumanas da violência praticadas por pessoas cínicas ou enfermas emocionalmente e espiritualmente, precisamos, por outro, propor soluções. Nosso Senhor Jesus Cristo semeou a paz, e por isso mesmo foi chamado de Príncipe da paz. Seus seguidores devem fazer a mesma peregrinação, o mesmo instrumento de paz, conforme São Francisco registrou magistralmente em sua oração. 
Naturalmente, a sociedade globalizada do século 21 exige instrumentos que interfiram na violência conjuntural, econômica e social. Precisamos, como povo, descobrir novos mecanismos de mobilização social, disseminando valores e informações que possam fecundar a paz. Mas, acima de tudo, continuo acreditando que o novo humano começa na descoberta de um mundo interior, potencialmente capaz de transformar todas as nossas relações sociais, políticas e econômicas. Somos todos habitantes de uma mesma casa, e em família é melhor se viver em paz. - 26-07-2010

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