sábado, 6 de julho de 2013

Um ídolo chamado mercado - Pr Carlos Queiroz

O mercado religioso também tem crescido, e alimentado uma florescente industria da fe?

O mercado tem sido cada vez mais citado como forc?a propulsora de sociedades inteiras e de todo tipo de relac?a?o, das interpessoais a?s internacionais. Utilizando-se de uma se?rie de mecanismos para estabelecer para?metros, fomentar condutas e definir regras, o mercado tem sido elevado a uma espe?cie de altar neste se?culo 21. Por suas regras, a capacidade empreendedora transforma mate?ria prima em produto, a fim de se atender a?s demandas e aos interesses dos clientes. E? assim que surge o lucro, objetivo primordial do mercado; na outra ponta, o mesmo produto proporciona certo grau de satisfac?a?o a quem o consome. Entidade distante da compreensa?o das pessoas comuns, e ao mesmo tempo ta?o pro?xima a ponto de interferir na vida do indivi?duo, o mercado transcendeu a esfera puramente econo?mica para intrometer-se na poli?tica, no esporte, na ecologia e ate? na religiosidade.
A indu?stria do futebol, por exemplo, conseguiu atender as demandas de entretenimento e paixa?o dos torcedores, transformando um tipo de “mate?ria-prima” em produto passi?vel de comercializac?a?o. Empreendedores conseguiram transformar o futebol num dos mais renta?veis nego?cios de mercado. A capacidade de crianc?as e adolescentes de controlar e conduzir com os pe?s uma bola de futebol – habilidade ta?o comum entre os brasileiros – e? o que alimenta essa indu?stria. Assim, a partir de garotos, sa?o fabricados atletas nas indu?strias especializadas do futebol, os clubes ou centros de treinamentos, que passam a vender atletas e servic?os de entretenimento para seus clientes.
Outro exemplo marcante e? o da chamada indu?stria de turismo, que nos u?ltimos tempos tem sido uma das principais fontes de renda de diversos pai?ses. Ha? uma demanda de clientes interessados em novas experie?ncias pessoais e no lazer. Pode-se considerar como “mate?rias-primas” deste mercado as belezas naturais de um determinado destino, assim como a arte, a cultura, o folclore ou a culina?ria de um povo ou regia?o. Enfim, empreendedores de diversos segmentos conseguem atender a?s demandas de seu pu?blico-alvo, transformando ate? mesmo o talento ou a habilidade humana em produtos a serem comercializados.
E o mercado religioso? Este tambe?m tem crescido, e alimentado uma florescente indu?stria da fe?. De um lado, temos a religia?o institucional utilizando-se dos elementos do mercado para justificar a funcionalidade pragma?tica de seus me?todos; de outro, temos os devotos desse i?dolo fundamentando esperanc?as no acu?mulo de suas da?divas, os bens materiais. Desse modo, surge uma nova forma de ser e fazer religia?o, que de fato caracteriza-se muito mais como um nego?cio de mercado. Ha? uma demanda subjetiva, a tentativa humana de encontrar na transcende?ncia uma resposta para as questo?es da vida, um jeito de se encontrar um caminho mais fa?cil e ra?pido para soluc?a?o de problemas e realizac?a?o de expectativas.
O ser humano e?, por natureza, religioso. Ele desfruta de um campo subjetivo, que o impulsiona ao exerci?cio da fe? e a? busca de um espac?o coletivo onde possa relacionar-se com a divindade. A mate?ria-prima capaz de atender a essa demanda e? a orac?a?o, a reza e os ca?nticos, assim como a confissa?o, as experie?ncias mi?sticas e as manifestac?o?es espetaculares, como o milagre. Empreendedores conseguem atender os desejos de seus clientes oferecendo-lhes os produtos da indu?stria dos nego?cios da religia?o. Da mesma forma como as indu?strias fabricam o produto final que sera? comercializado, instituic?o?es religiosas sa?o as fabricantes de respostas para consumo da alma. No mercado, tanto umas como as outras te?m a mesma natureza e usam a mesma lo?gica.
Pela lei da oferta e da procura, que rege o mercado desde os primo?rdios da civilizac?a?o, e? a sociedade que determina a viabilidade dos empreendimentos. Nos dias de hoje, com o surgimento de novos mercados, cabe a ela, tambe?m, o papel de acompanhamento e fiscalizac?a?o dos nego?cios que realizam. Os empreendedores da atividade religiosa e seus atravessadores usam como mediac?a?o o nome de Jesus, e muitos acreditam que esta?o seguindo de fato a Cristo. Na?o percebem que, na raiz dessa neocristandade, na?o se esta? buscando ao Senhor nem os compromissos decorrentes do seu Reino, mas apenas objetivando interesses exclusivamente materialistas. Os mercadores da espiritualidade fazem do nome Jesus um mero amuleto.
Dentro de tamanha relac?a?o mercantilista, na?o ha? diferenc?a se o mediador e? o Filho de Deus ou um i?dolo qualquer – ate? porque, neste caso, a grande divindade e? o capital, a conta banca?ria, enfim, o vil metal. Todavia, transac?o?es de cara?ter comercial na?o cabem no Evangelho. Para os servos de Deus, e? necessa?rio averiguar na experie?ncia de Jesus Cristo e da primeira gerac?a?o de disci?pulos uma outra maquete, fundamentada na grac?a, no amor e servic?o aos pobres e marginalizados; enfim, uma opc?a?o de servic?o e sacrifi?cio pelo bem comum.
Nesse novo jeito de se fazer religia?o, muitos crista?os, inclusive os de boa vontade, na?o percebem que fazem parte de uma nova ordem espiritual regida pelo i?dolo do mercado. Uma divindade cujas faces modernas nada mais sa?o do que maneiras novas de se fazer coisas antigas. So? na?o percebe quem ficou cego pelo deus deste se?culo.

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